Comecei a me sentir incoerente... então senti necessidade de por tudo o que estava dentro pra fora, pra olhar de longe e tentar entender como funciona...

domingo, 29 de setembro de 2024

Ódio

 Tem ódio demais no mundo. 

E o ódio me entra pelos poros e me queima a face com mil chamas invisíveis. 

E me queima o coração em mil noites que amanhecem insones.

E me queima o estômago, as solas dos pés e as veias.  Queima-me a alma.

Se eu devolvo o ódio que me entregam? Não é possivel devolver o ódio feito pacote entregue por engano, que nada de si deixa pra trás.  

O ódio, pra ser devolvido, precisa ser cultivado, crescer, florescer e então ser partilhado, deixando atrás de si um ser humano em chamas. 

Não,  eu escolho o amor. 

E a distância. 

Para não queimar junto.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Quando e onde

 Primeiro nos perguntamos se o racismo existia. Sim, existe.

Depois, se éramos racistas. Sim, somos. A sociedade é estruturalmente racista e todos nós temos atitudes racistas diariamente.

Agora, precisamos nos perguntar Quando? Onde?

Porque o reconhecimento de que vivemos em meio ao racismo desacompanhado de um profundo incômodo é uma aberração.

Porque reconhecer-se racista sem compreender que é preciso mudar não serve pra nada. 

Então é hora de procurar: qual o exato momento em que o racismo se manifesta nas minha ações? E como, reconhecendo, eliminamos os gestos racistas, um a um.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Desenraizar

 Preconceitos, concepções ultrapassadas, olhares há muito superados...

uma porção de ervas daninhas estão enraizadas em nossos modos de existir.

É preciso enfiar as mãos nas entranhas e puxar as raízes, uma a uma. E vai doer. 

...

mas podar não resolve.

domingo, 5 de março de 2023

Olhar e ver-se

Olhar e ver-se.

Olhar e ver-se neste corpo

que não é mais o corpo de 20. que não é mais o corpo de 30.

(Re)ver-se

Atualizar-se

olhar e ver-se neste corpo não de 20, não de 30. 

Neste que não mais  gesta

nem amamenta.

Ver-se neste corpo que é e não é o mesmo

Neste corpo história

na curva que se inverte entre a cintura e os quadris

nas ondulações que cobrem os glúteos

nos seios que horizonalizam

nas bochechas, talvez mais cheias

olhar-se e ver-se

nas olheiras desde sempre, 

no nariz sempre proeminente, nunca olhado.

olhar-se

ver-se

Nas ondulações dos cabelos,

Nos olhos finalemente mais firmes.

olhar e ver-se neste corpo

Não o de 20, não o de 30.

nem menos, nem mais. Neste corpo outro

Neste corpo-hoje

olhar.

Olhar e ver-se

(Re)imaginar-se

Olhar-se

Ver-se.

Reconhecer-se.

domingo, 4 de outubro de 2020

Sonhos...

 Minha mãe conta que comprou um bolo e estava engordurado, não desgruda dela de forma alguma. Depois vê que o outro, que comprou tb, está queimado. Fica triste.

Explico que tudo bem. Pergunto se estava com fome. Ela conta que sim. Explico que fazemos escolhas ruins com fome.

Ela então sente tontura, diz que não comeu ainda e desmaia. Nessa hora a Lia pega um carrinho (tipo motoca) e se larga ladeira abaixo. Pego a mãe no colo e corro atrás da cria. Um homem passa, um homem negro. Peço que alcance a criança. 

Passa uma criança numa bicicleta. Não, não é essa, é a próxima. Ele segura a motoca e a Lia desce em segurança. Agradeço. Peço um abraço pra pequena, ainda com a vovó no colo. Ela não quer. Ela quer descer a ladeira de novo.

Não sei dizer se há algum significado específico no fato do homem ser negro, retinto. Pouquíssimas vezes eu sonhei com pessoas não brancas desconhecidas. Acho que era só o moço que trouxe o brigadeiro hj a tarde.


sábado, 25 de janeiro de 2020

Sobre cantar em coro....

Hoje eu cantei a Missa de Alcaçus, no Fórum Coral, organizado pela Rede Cultural Luther King na Catedral da Sé.
E hoje, precisamente, finalmente, eu entendi porque gosto de cantar em coro, mais que de apenas cantar.
Eu cantei por algum tempo, parei, voltei, parei. E só hoje, no altar da Sé, me veio esse pensamento (em hora deveras imprópria, que foi preciso dizer xô, xô... volte mais tarde) sobre o que me atrai no canto coral.
Percebam:
O olhar vendo, atento no maestro; o ouvido escutando os sons das colegas ao lado, do conjunto e o meu próprio; a sensação do corpo concentrado - postura, respiração, articulação, que nada se faz ao acaso; a vibração do som na pele; a sensação da boca úmida, que garganta seca machuca. À exceção do olfato, cantar é o êxtase dos sentidos. É como dançar uma dança de movimentos minúsculos, sinto eu, ainda bailarina. Todos os seus sistemas receptores e produtores de informação estão concentrados num único ato e... Ah! Meus caros. É uma delícia.
É uma delícia pela mera sensação do canto, mas tem mais: num mundo de atenções tão constantemente divididas, estar cem por cento presente, por alguns minutos, num único lugar, é um descanso pra alma. Sabe a noite sem dormir? Não existe. A faxina por fazer? Não existe. As questões de família, de dinheiro, de trabalho? Nada existe.
Existe o seu corpo físico, a sua memória e a música. E só.
O maestro? Que me perdoem os maestros, mas vocês tampouco existem. Seus desejos, medos, anseios, humores e tudo o  mais que nos torna humanos estão em suspenso. De vocês existe apenas a mão, o olhar e a ponta da varinha. O maestro é a forma visível da música. E só.
A platéia? Que me perdoem os amigos que em anos antigos se dirigiram diligentemente às salas de concerto para me verem cantar. Eu não me importo. Ah! O inestimável desinteresse da arte! Eu canto unicamente para cantar.
Egoismo? Provavelmente.
Aconselho-vos a serem igualmente egoístas: venham unicamente para escutar.
E se em algum momento, lhes vier a vontade e a chance, vivam essa experiência única: Cantem!

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Da educação...

Quando eu vejo as propagandas dos colégios cívico-militares eu fico um tantão preocupada. Sabe porquê?

Porque a real, a real mesmo, é que os lindos colégios cívico-militares que esse governo ama nunca educaram os nossos meninos.
Os nossos meninos, esses que dizem que não tem jeito, esses que não param quietos, esses que chegam no 5o ano sem saber ler... esses nossos meninos sempre foram EXPULSOS.


Expulsos.

Muito se fala hoje do trabalho que a escola não faz, mas o fato é que o trabalho que a gente está tentando fazer e não está conseguindo, ninguém fez. O trabalho que a gente tenta (e não consegue). ninguém nem tentou.
Esses meninos que a gente não educa, tão no EJA, e é a gente - de novo - quem tá tentando fazer o trabalho que as belas escolas dos tempos da ditadura não fizeram.

Eu fico pensando que esses dois colégios por lugar que o MEC quer agora talvez até deem certo, porque são só dois, e os nossos meninos, esses nossos meninos, serão devidamente "transferidos"... assim, entre aspas mesmo.

sabe,,, essa frase - esse sentimento - ecoa em mim nesses tempos:
O TRABALHO QUE A GENTE NÃO CONSEGUE FAZER, NINGUÉM FEZ. NINGUÉM NEM TENTOU

Não nego as falhas. A escola tem muitas.
Mas quando olho pra trás, não encontro respostas. Se bem que hoje, só hoje, eu achei uma resposta... me lembrei de uma tentativa...
Lembrei que tinha uma parte dos capoeiras do começo do século que era do exército.
O cara era pego fazendo arruaça, mandavam pro exército pra tomar jeito.
O resultado foi um bocado de caras que faziam arruaça e ainda davam carteirada na polícia.... Ah.... Esses meninos...