Comecei a me sentir incoerente... então senti necessidade de por tudo o que estava dentro pra fora, pra olhar de longe e tentar entender como funciona...

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Despedida ao Tê

 


Perdemos o Tê.

O coelhinho que a Lia ganhou dos avós aos 3 meses e que se tornou a naninha preferida, o objeto de apego oficial que a acompanhou em todos os cantos por alguns anos e em todas as noites por mais alguns. 

O Tê, que se chamava Tê porque essa foi a primeira forma que ela disse coelho. Depois todos os outros viraram teio, toeio, coeio, coelho, mas o Tê ficou Tê pra sempre.

Eu me lembro do dia que esqueci na vizinha e ela virou meia noite acordada,  chorando. Lembro quando derrubamos no parque Ibirapuera e voltamos pra pegar e quando enqueci num restaurante, e voltamos pra encontrar. Lembro do coração na mão em cada situação e da cara do pai quando eu esquecia de mandar (as noites dele tb não deviam ser fáceis. )

De uns meses pra cá, ele não ia mais com ela dormir na casa do pai, não ia há algum tempo nas viagens, chegou a ficar perdido em casa uma semana sem que ela perdesse o sono. E eu? Eu estava tranquila. O que se perde em casa alguma hora aparece. 

Estava crescendo a menina, e esse desligar gradual fazia parte do processo.

Na última viagem, ela quis levar. Nem entendi porquê,  mas quis, e concordei. Lá, lembrou dele umas noites, outras não, como aqui. Nem ligada o suficiente pra lembrar o tempo todo, nem desligada o suficiente pra ir sem ele. 

Na hora de ir embora, de Bonito pra Campo Grande, o transfer chegou mais cedo, e me roubou os minutos daquela última checada, do "será que não esqueci nada?". Naquela noite, na capital, não nos lembramos. Na noite seguinte, quando me dei conta de que não lembrava de tê-lo visto, corri pra falar com a pousada. Mandei a foto, fiz mil perguntas: será que o novo hóspede não viu? Será que caiu atrás da cama? Será que foi parar na lavanderia?

Nada.

Segundo a atendente: a hospede não viu, a camareira não viu, ela procurou em todos os lugares e não achou.

A Lia? Disse pra eu não me sentir culpada, que a responsabilidade era dela ttambém. Usou essa palavra mesmo res-pon-sa-bi-li-da-de. Chorou apenas quando me perguntei se alguém teria se desfeito dele, achando que havia sido abandonado, e estaria com medo de aadmitir.No mais, parece bem e hoje, ao dormir, segurou a minha mão e disse que assim se lembrava dele.

Enquanto isso eu choro por ela. Choro o objeto perdido que eu sei que era querido. Choro a dor que ela não mostra. Choro o meu bebê que não é mais bebê, está crescendo. E sonho maneiras mirabolantes desse objeto perdido, tão querido, retornar. 

É, Tê. Eu te colocaria num quadro e te guardaria pra sempre, mas não deu. 

Uma amiga me disse que esse é o destino de todas as naninhas. E talvez seja mesmo. 

Espero que você se divirta e que encontre uma criança pra colocar pra dormir em Bonito. Pode ficar tranquilo que a nossa querida menina terá sempre a minha mão, até o dia que não precisar mais. 

Obrigada pela companhia.