Comecei a me sentir incoerente... então senti necessidade de por tudo o que estava dentro pra fora, pra olhar de longe e tentar entender como funciona...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

o dia em que descobri a política

Lembro eu criança, voltando da escola pela Jamaris cheia de árvores novas. Em volta de cada arvorezinha, um protetor com o símbolo da prefeitura do município de São Paulo.

Então teve eleição e ganhou um tal Paulo Maluf, que a minha mãe sempre odiou mas a minha avó adorava e eis que quando volto pras aulas e encontro o logo vermelho do novo prefeito nas gradinhas verdes das plantas já conhecidas.

"Agora quem passar aqui vai pensar que foi ele que plantou", foi a idéia que me pulou à mente. E aquilo me pareceu de uma desonestidade tão grande, uma cara de pau tão sem tamanho, que penso que mesmo sem os discursos contrário da minha mãe, sem qualquer denúncia ou promessa não cumprida e apesar da defesa da minha avó, eu não votaria neste jamais.

Talvez eu fosse capaz de deixar passar as mentiras, os exageros e os disparates do discurso. "Todo mundo sabe que político mente", diria eu, mas usar as arvorezinhas para fazer campanha era absolutamente imperdoável para a minha moral infantil.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

cada uma...

Eu ouço cada uma...
que não é bom dar nota baixa ou irão te perguntar se você deu mesmo todas as chances do seu pobre aluninho recuperar as notas;
que reprovar eles não vão mesmo, pois pra reprovar você tem que provar por A+B+C+(x.y) que você fez tudo o que precisava, deu todo o apoio necessário, comunicou a família, o conselho tutelar, a vara da infância, o padre, o pastor, o papa, o cachorro, o papagaio... ofereceu trabalho de compensação de faltas, encominhou pro psicólogo, fez a recuperação paralela, propôs atividades diferenciadas e, mesmo assim, não deu certo.... (e eu aqui me perguntando quem de fato acredita que eu consigo fazer tudo isso pelos meus mais de 560 alunos desse ano)

Agora tivemos duas novas:
a primeira é que não podemos convocar os pais por telefone. As pobres mamãezinhas se sentiram incomodadas e, ao que consta, foram reclamar com a supervisora....

Essa é boa. Não bastasse não poder cobrar nada dos alunos (e não é que eu queira reprová-los... eu não acredito em reprovação, só acho um absurdo me pressionarem pra assinar atas e tarjetas que afirmam que ele domina conhecimentos que eu sei que ele sequer lembra que existem), agora também não podemos cobrar as famílias.
Agora não podemos incomodar a Dona Devota e que afirma passar o dia na Igreja pra não ficar perto da criança, a outra que diz que não manda o menino pra escola porque tem outros filhos (???!), nem os tantos que a gente vê chamando as crianças de traste, vagabundo e daí pra baixo.

Somos pressionados pra não cobrar nada de ninguém e a minha dúvida é: quem se espera que eduquemos assim?
Me parece que o objetivo de todo esse discurso que nos repetem há tanto nos ouvidos e que deu no que temos visto em ENEMs, Vestibulares e em tantas universidades é, no fundo, manter o povo pobre ignorante, manter a classe iletrada nessa mesma condição através das gerações, pra garantir a concentração do capital nas mãos que já o tem.

A segunda, que me deixou mais triste que chocada, é saber que há quem se console por saber que eles irão pagar por tudo pastando no ensino médio e na vida adulta.

Não. Isso não me consola. Se eles faltassem, enrolassem e me infernizassem a vida, mas conseguissem fazer um bom segundo grau, uma boa faculdade, se qualificar, ter um bom trabalho e dar uma condição de vida digna as suas famílias, eu ao menos sentiria que, ainda que aos trancos e barrancos, meu dever foi cumprido.