que não é bom dar nota baixa ou irão te perguntar se você deu mesmo todas as chances do seu pobre aluninho recuperar as notas;
que reprovar eles não vão mesmo, pois pra reprovar você tem que provar por A+B+C+(x.y) que você fez tudo o que precisava, deu todo o apoio necessário, comunicou a família, o conselho tutelar, a vara da infância, o padre, o pastor, o papa, o cachorro, o papagaio... ofereceu trabalho de compensação de faltas, encominhou pro psicólogo, fez a recuperação paralela, propôs atividades diferenciadas e, mesmo assim, não deu certo.... (e eu aqui me perguntando quem de fato acredita que eu consigo fazer tudo isso pelos meus mais de 560 alunos desse ano)
Agora tivemos duas novas:
a primeira é que não podemos convocar os pais por telefone. As pobres mamãezinhas se sentiram incomodadas e, ao que consta, foram reclamar com a supervisora....
Essa é boa. Não bastasse não poder cobrar nada dos alunos (e não é que eu queira reprová-los... eu não acredito em reprovação, só acho um absurdo me pressionarem pra assinar atas e tarjetas que afirmam que ele domina conhecimentos que eu sei que ele sequer lembra que existem), agora também não podemos cobrar as famílias.
Agora não podemos incomodar a Dona Devota e que afirma passar o dia na Igreja pra não ficar perto da criança, a outra que diz que não manda o menino pra escola porque tem outros filhos (???!), nem os tantos que a gente vê chamando as crianças de traste, vagabundo e daí pra baixo.
Somos pressionados pra não cobrar nada de ninguém e a minha dúvida é: quem se espera que eduquemos assim?
Me parece que o objetivo de todo esse discurso que nos repetem há tanto nos ouvidos e que deu no que temos visto em ENEMs, Vestibulares e em tantas universidades é, no fundo, manter o povo pobre ignorante, manter a classe iletrada nessa mesma condição através das gerações, pra garantir a concentração do capital nas mãos que já o tem.
A segunda, que me deixou mais triste que chocada, é saber que há quem se console por saber que eles irão pagar por tudo pastando no ensino médio e na vida adulta.
Não. Isso não me consola. Se eles faltassem, enrolassem e me infernizassem a vida, mas conseguissem fazer um bom segundo grau, uma boa faculdade, se qualificar, ter um bom trabalho e dar uma condição de vida digna as suas famílias, eu ao menos sentiria que, ainda que aos trancos e barrancos, meu dever foi cumprido.
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