Comecei a me sentir incoerente... então senti necessidade de por tudo o que estava dentro pra fora, pra olhar de longe e tentar entender como funciona...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Poema Enjoadinho


Vinicius de Moraes

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

...

A porta se abre e ela sequer percebe.
Então ele abraça a mãe que enfim estanca o tremor e se desaba em lágrimas para constatar: "isso não era ao contrário? minha criança cresceu."
- Toda vida me perguntei se cresceria. Toda vida olhei meu pai e me perguntei se como ele eu seria capaz de abraçar uma mulher e com ela todo o seu desespero. Se meus braços seriam fortes o bastante pra esmagar o medo que tomasse seu coração até que sobrasse apenas um lago de lágrimas acumuladas a escoar lentamente pela fresta dos olhos.

sábado, 9 de outubro de 2010

...

A maior parte do que eu aprendi na escola foi útil em algum momento, mas em alguns casos, levou anos.

Foi entendendo em ciências, no ensino fundamental, a mistura das substâncias e o funcionamento da digestão, que eu descobri que se comesse coisas gordurosas antes de beber eu ficaria menos bêbada e passaria menos mal. Só que eu não bebia no fundamental.

É usando regra de três, das aulas de matemática, que eu amplio os desenho que faço para os cenários. Mas eu não fazia cenários naquela época.

É por terem me ensinado a fazer textos formais que eu me sinto segura, hoje, pra escrever circulares para os pais dos meus alunos ou pra escrever meu projeto de mestrado. Mas eu não fazia nada disso quando estava na escola.

Na escola eu simplesmente aprendia porque gostava de saber coisas novas, porque me ensinaram que era importante aprender as coisas da escola e porque não queria que ninguém me enchesse a paciência dizendo que eu não cumprira a minha obrigação.

Com o passar dos anos fui encontrando situações no meu caminho onde o conhecimento se fez útil.

Agora eu leio em todo canto que os conteúdos escolares devem ser úteis para o aluno em sua vida fora da escola ou a aprendizagem não será significativa e me pergunto se a escola tem esse tempo. Será que dá para esperar que as coisas que a gente sabe (ou acha) que precisa ensinar se tornem de fato necessárias? Será que aí não é tarde demais?

Me parece que levar isso a ferro e fogo seria deixar para explicar as coisas no momento em que eles precisariam já saber.

domingo, 3 de outubro de 2010

...

então meus olhos perambulam no espaço, procurando fantasmas, e depois mergulham no fundo dos seus:
"quem te disse que evitasse? eu digo apenas que viva cada momento como se fosse único. O primeiro e o último. Como se toda a sua vida tivesse servido apenas para chegar ali. Que viva cada segundo como se fosse a melhor coisa que te aconteceu, até que ele seja desbancado pelo próximo segundo. Eu não recuso a tua viagem, desejo apenas olhar as flores no caminho."

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

DURA DELICADEZA.

Tempo atrás ouvi em algum lugar que um grande escultor não cria sua peça a partir da pedra. Ele enxerga a escultura que é está encerrada na pedra bruta e a liberta.
Mas como enxergar a escultura dentro de cada pedra num contexto de produção em série?