Comecei a me sentir incoerente... então senti necessidade de por tudo o que estava dentro pra fora, pra olhar de longe e tentar entender como funciona...

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Perdida

Um ponto qualquer distante, nos confins da cidade. Lugar de gente humilde e simpática, que nos oferece café e fala da vida. Lugar um pouco assustador, olhares esquivos pelos cantos, desses de não sobrar sozinha a noite.

Instantes de uma neblina que tudo esconde e depois se desfaz e então decido ir embora antes que anoiteça.

O senhor que me acompanha ao ponto some quando corro atrás do coletivo, que por sua vez não para. Outras conduções vem atrás, todas me levariam pra casa, mas nenhuma para ao meu sinal.

A neblina volta a subir enquanto a tarde cai e eu alí, cheia de caminhos mas sem passagem.

domingo, 4 de maio de 2014

...

Emagreci.
A vida se alarga a minha volta.

...

... e então eu morava com a mãe e haviam escorpiões no meu banheiro. Não, não no banheiro da casa, no meu. E eu quase os tocava antes de vê-los, depois corria, trancava a porta, contava um caso.

Depois, num outro tempo (que os sonhos tem sempre muitos tempos), haviam pessoas em casa. Dois. Eu tomava um leite muito açucarado e devia, sabe-se lá porque, enrolar os dois até que fossem embora, tomando o leite até o fim sem que vissem. Se eu terminasse, ou se eles se fossem, dessas duas maneiras tudo estaria bem.

sábado, 3 de maio de 2014

...

Eu não chego a tempo, não termino a tempo, não acerto os compassos.
Eu me distraio e perco tempo ou  as horas.
Parece que o meu destino é essa eterna luta com tictac.
esse não aprisionar-se dia a dia.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Dia do Trabalho

Direto do ano 2000, interlocutora com 8 anos na época:

"Lu, qual sua profissão?
Eu trabalho como web designer, faço sites.
Não, Lu, A sua profissão... assim: Médica, veterinária, advogada....
Hum... então. Chama-se webdesigner.
Não, Lu... você não entendeu o que eu perguntei... Eu perguntei a profissão..
(Aí eu desencanei de explicar que aquela palavra estranha era o nome de uma profissão....)
Eu também sou Bailarina.
Não... Lu... a profissão...
E professora, de ballet.
Não... Lu... você não está entendendo... Profissão, Lu, assim ó: Médica, veterinária, dentista, advogada... Profissão, entende?"


Ironicamente, o pai dessa menina era músico.

...

Era um almoço. Desses que eu mesma gosto de armar, mas não era eu quem cozinhava. Eu tinha fome.

O prato, um não-sei-quê vegetariano, montado um a um por um cozinheiro prestimoso que explicava: este é o pão, a dispunha algumas fatias de abobrinha sobre a forma, esta é a carne, e arrumava os legumes refogados... devia ser montado e assado um a um. Era um processo lento. E eu tinha fome.

Este é o dela, este é o dele, e eu com fome.

Haviam na sala personagens de diversas partes da minha vida e todos eram servidos, um a um, antes de mim. E eu tinha fome.

Quem já me viu com fome sabe que eu sofro e grito e brigo e choro e xingo e desespero e surto e... mas o prato nunca era meu. E eu... a fome.

 Lá pelas tantas meu amor - que já me conhece - passa na frente de alguém e me entrega um prato.

Eu, enfim salva, pego talheres. São duas facas. Volto e busco mais um garfo. É outra faca. Vou procurar na gaveta, depois não sei.

Só sei que acordo sem ter podido tocar na comida.