Lembro-me de, há anos, o mocinho me ler um texto.
Eu adolescente estasiada:
por se oferecer para me ler algo de seus escritos
por poder permanecer estática, a olhá-lo tão diretamente, por tão longo tempo e tendo uma razão-desculpa tão convincente.
Belas palavras aquelas, mas a imagem insistia em se apresentar de tal forma fascinante que o pensamento, ignorando seus próprios avisos - presta atenção, menina! vai ter de dizer algo depois! - ia e vinha de ouvir a ver e de novo a ouvir, incapaz de permanecer em um e ainda recusando-se a fixar no outro.
Aquela imagem me coloriu as noites por anos, inda hoje vez ou outra faz que volta.
Do texto nunca soube. O pouco que apreendi se limita à perceber belas palavras, muito bem escolhidas entre as que jamais nos serviriam numa feira - palavras que não servem pra comprar limões - usadas com muita propriedade. Nem sei se narrativo ou dissertativo. Talvez poético.
Também não confessei ao rapaz minha desatenção. Não seria então capaz de confessar tudo, e pela metade receava magoá-lo.
Os caminhos se perderam e mais tarde se cruzaram.
O mundo dá muitas voltas e ainda acaba dando um nó em todos nós.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
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