Era um almoço. Desses que eu mesma gosto de armar, mas não era eu quem cozinhava. Eu tinha fome.
O prato, um não-sei-quê vegetariano, montado um a um por um cozinheiro prestimoso que explicava: este é o pão, a dispunha algumas fatias de abobrinha sobre a forma, esta é a carne, e arrumava os legumes refogados... devia ser montado e assado um a um. Era um processo lento. E eu tinha fome.
Este é o dela, este é o dele, e eu com fome.
Haviam na sala personagens de diversas partes da minha vida e todos eram servidos, um a um, antes de mim. E eu tinha fome.
Quem já me viu com fome sabe que eu sofro e grito e brigo e choro e xingo e desespero e surto e... mas o prato nunca era meu. E eu... a fome.
Lá pelas tantas meu amor - que já me conhece - passa na frente de alguém e me entrega um prato.
Eu, enfim salva, pego talheres. São duas facas. Volto e busco mais um garfo. É outra faca. Vou procurar na gaveta, depois não sei.
Só sei que acordo sem ter podido tocar na comida.
Ibrahim Traoré e a transição planetária.
Há 4 dias
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