Comecei a me sentir incoerente... então senti necessidade de por tudo o que estava dentro pra fora, pra olhar de longe e tentar entender como funciona...

terça-feira, 29 de julho de 2014

O passarinho da asa quebrada

Era uma vez um príncipe encantado de passarinho: desavisado, dormira por tempo demais no ninho dos bem-te-vis, comera o mel dos beija-flores e se banhara na grande bromélia, que era a banheira dos sabiás. Os passarinhos reclamaram em sonho à gralha do pântano, que, quando acordou de noite, piscou e fez dele um passarinho também, pra ver o que era bom pra tosse.  E como o principe havia quebrado um braço caindo de uma árvore, saiu passarinho da asa quebrada depois do feitiço, o que a avezona achou muito bem feito.

A floresta então, antes tão divertida, virou um mundo muito assustado. Tudo quanto era bicho, dos grandes aos pequeninos, vinha querer sei lá o quê com ele, e o passarinho que era príncipe achou por bem fugir.

No desespero de se salvar, foi para o castelo da princesa mais linda, a do País do Lagos.

"Ah, passarinho, pobre de ti!" - disse a princesa - "Mas não posso ficar contigo: não sei cuidar de passarinho e espero um príncipe. E mesmo que o príncipe gostasse de ti, não sei quando chega e eu tenho um grande gato que antes disso irá te devorar!" - e dizendo isso, a princesa levou-o para fora rapidamente e ele pulou da mão da princesa para uma carruagem que passava. O passarinho não contou que era príncipe nem que estava encantado, porque no susto de virar passarinho da asa quebrada havia se esquecido do passado.

A carruagem o levou para o país vizinho: o país das montanhas. A princesa do país das montanhas - que era a mais sábia - se encantou com a canção de socorro do passarinho, mas não permitiu que ele ficasse: "Minha torre é muito alta... com a asa quebrada você pode cair e se machucar ainda mais." Essa princesa também esperava um príncipe e, embora fosse sábia, também não sabia cuidar de passarinho, mas conhecia um pouco de feitiços e teve uma idéia. O passarinho nem teve tempo de contar que era... que era... A princesa disse que ele se demorava demais a lembrar e no primeiro vento encantado da noite mandou-o para o próximo país: o país dos pântanos.

No país dos pântanos não havia princesas. A única pessoa que morava lá era uma bruxa, daquelas de mais de 300 anos, toda enrugada, encurvada e sem dentes. Na ponta de seu gigantesco nariz havia uma clássica verruga, daquelas de bruxa mesmo, com um pelo no meio.

A bruxa viu o passarinho e ele, sem conseguir voar ou correr, cantou seu canto de socorro, que era um pobre passarinho, indefeso, com fome e com a asa quebrada... mas não contou que antes era príncipe, pois havia lembrado, mas teve medo: achava que a bruxa não acreditaria nele e ficaria furiosa.
E a bruxa então disse:
- Ah... passarinho, vou sim cuidar de você! Vou lhe dar as melhores comidinhas... - E ele a viu colhendo pimentas.
- Ah... passarinho, vou sim cuidar de você! Vou lhe dar um banho bem quentinho... - E ele a viu por a panela no fogo.
_ Ah... passarinho, vou sim cuidar de você! Vou tratar sua asa quebrada... - E ele a viu pegar uma faca bem afiada.

Nessa hora o passarinho teve tanto medo, mas tanto medo, mas tanto tanto medo mesmo, que ele esqueceu que era passarinho e soltou um grito tão estridente que quebrou o feitiço da gralha. E com pernas de príncipe ele correu para bem longe dali.

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