Ia embora por uma viela estreita. Janelas e portas se alternavam do lado esquerdo. Nos parapeitos, flores.
Da última janela, já quase alcançada a escada que leva ao portão e à rua, faço cair um vaso de violetas.
A janela se abre em flagrante enquanto tento recompor a plantinha em seu vaso e este ao lado dos outros. Uma senhora de sorriso doce, olhar tranquilo como só os velhos conseguem, cabelos tingidos de loiro quase ruivo, batom, blusa solta florida, gorda, bonachona, uma perfeita vovó acolhe com benevolência minhas desculpas - tudo bem, filha, ela vai ficar bem.
Então as desculpas são suas, pela casa bagunçada que se mostra pela janela. E me explica com a mesma benevolência que passara uma noite de fetiches com um negro escultural e que bem tentara não derrubar tantas coisas, mas com dois metros de homem nos braços essa não era tarefa fácil.
No canto à direita, sobre o beliche, um casal mais jovem, uma filha talvez, pratica o amor matinal enquanto a avó recolhe objetos pelo chão, resquícios da noite anterior.
Me despeço. Desço os degraus da escada vertical, como se descesse pelo lado de fora de uma torre e atravesso o portãozinho enferrujado.
Acordo às 6h45: alguém bate lata na avenida.
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